quarta-feira, 21 de março de 2007

O velho cemitério judaico

No Outono de 2005, conheci a cidade de Praga, e nela o bairro judeu, e nele o velho cemitério judaico. Como outros, este lugar causa impressões que por não serem de fácil descrição, cedo são esquecidas. Valha-nos então a mestria de grandes escritores como o Elias Canetti, - As vozes de Marraquexe.

“ O cemitério lembrava uma enorme lixeira. Talvez o tivesse sido e só mais tarde lhe houvessem dado o seu verdadeiro destino. Nada naquele lugar se salientava. Pedras que se viam, ossos que se imaginavam… Tudo, tudo jazia! Não era agradável andar por ali de pé a ponto de nos tomar uma sensação que não só nos diminuía como até parecia cobrir-nos de ridículo. Em muitos outros sítios do mundo, os cemitérios estão arranjados de maneira a proporcionarem felicidade aos vivos. Há neles tanta vida, tantas plantas, tantos pássaros, que o visitante, só ele vivo entre tantos mortos, sente-se animado e reconfortado, digno de ser invejado. Nas campas lê nomes de pessoas. A cada uma dessas pessoas, sobreviveu. Sem sequer o confessar a si próprio, parece-lhe nesse momento, que é como se os tivesse vencido a todos, um após outro! “

“ Naquele deserto cemitério judaico não há nada! Ele é a sua própria verdade, na sua paisagem lunar. Ao visitante é-lhe completamente indiferente o lugar onde cada pessoa está enterrada. Não se curva. Não procura decifrar nomes. Estão todos ali como lixo e só desejaríamos escaparmo-nos daquele lugar, tão cobardemente como um chacal! É o deserto dos mortos, sobre o qual nada nasce. È o último de todos os desertos.

2 comentários:

Silvares disse...

Benvindo à Blogosfera.
Este cemitério é "apenas" um pouco mais tenebroso. A descrição dos cemitérios "normais" peca por excesso. Já estive em alguns e não foram os nomes, nem as fotos, nem os pássaros e muito menos as flores, capazes de me fazerem sentir invejado. O que mais me impressionou foi o silêncio... mortal!
Imagino que nesse cemitério em Praga a qualidade do silêncio seja igualmente excelente.

verde disse...

O amontoado de jazigos do velho cemitério judaico é o testemunho vivo de que nem na morte houve dignidade para o povo judeu. é realmente impressionante.