quarta-feira, 20 de junho de 2007

Eu, etiqueta

Numa grande viagem de autocarro que fiz pelo sul da Europa, já lá vão 17 anos, conheci uma pessoa que logo a seguir a se ter licenciado no Brasil em Literatura, veio para a Universidade de Letras desenvolver um trabalho em conjunto com estudantes portugueses da mesma área do saber. Numa linguagem pouco técnica, para que eu entendesse, contou-me de sua estranheza pelo facto de os Portugueses chamarem “Estudo de Literatura Contemporânea” à análise de textos de escritores como Eça, Julio Dinis e Camilo. No Brasil, dizia, os módulos de ensino com semelhantes títulos, incidem sobre autores muito mais actuais e sobre temas muito mais “vivos”. Não tenho conhecimentos do ensino das letras em Portugal para comentar essa afirmação, até porque as mesmas servem-me de lazer e não de trabalho. Mas ao encontrar há dias, este poema do Carlos Drummond de Andrade dito pelo Paulo Autran, lembrei-me do que foi dito.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Chabon e Eugenides, para se ler no verão

Alguns escritores americanos de uma nova geração, têm sido muito bem sucedidos e premiados ao escreverem argumentos simples, com a História dos Estados Unidos como pano de fundo. Comprova esta ideia o Pulitzer para ficção de 2001 ganho pelo Michael Chabon com "As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay" e o de 2003 ganho pelo Jeffrey Eugenides com “Midlesex”. Não são leituras complexas ou exigentes. As narrativas são envolventes e viciantes, por seguirem permanentemente direcções que o leitor não espera.

"As Espantosas Aventuras de Kavalier & Clay", fala da época de ouro das bandas desenhadas. Nessa altura, os americanos assistiam a Segunda Guerra Mundial do lado de fora, apesar de já se ouvirem muitas vozes pró-intervenção, em especial na comunidade judaica de Nova York. Os “Super Heróis” da BD, combatiam os nazis, e poupavam o mundo desse flagelo. Quem mais prosperava com o sucesso comercial desses desenhos não eram os seus criadores, mas sim alguns editores que viam os volumes de vendas subirem para valores nunca atingidos pela “literatura convencional”. Neste caso, os criadores são dois primos de ascendência judia, um deles (Sam Clay) é nascido e criado em Brooklyn, o outro ( Joe Kavalier ) chega a Nova Iorque por força da invasão de Praga pelas tropas do terceiro reich. Inspirados na evasão de Kavalier, criam “ O Escapista”, personagem que no início da década de 40 rivaliza com o “Super Homem” no mercado das histórias aos quadradinhos.

“Middlesex”, de Jeffrey Eugenides, é das melhores coisas que li nos últimos anos. Pelo que pesquisei do autor, a personagem central, Cal Stephanides, assemelha-se em muitos aspectos ao seu criador. Excepto num pormenor que acaba por condimentar todo o romance – trata-se de um(a) hermafrodita. Ao entrar na adolescência começa a viver da pior forma os primeiros sintomas da sua “anormalidade”. O encantador enredo da família Stephanides, desde Desdémona (A avó de Cal) desenvolve-se ao longo de mais de quinhentas páginas, de pura competência escrita. Eugenides escreveu também “As Virgens Suicidas”, tão bem adaptado ao cinema por Sophia Coppola. É de contar que “Middlesex”, passe brevemente à tela.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Babel

Nos filmes, nas séries e nos livros deste início de século, reparei numa espécie de moda, um pensamento muito presente nos realizadores e escritores que hoje são mais badalados. Falo do exponencial impacto, das acções individuais.

Levá-lo ao absurdo, é a melhor forma de exprimir o conceito – “ O Bater de asas de uma borboleta na china, causa um furacão na América.” – The Butterfly Effect – a teoria do caos.

Sempre tivemos a consciência de que, com as nossas acções, influenciamos os outros, na forma como pensam ou como agem. Babel revela que num mundo globalizado, esse impacto atravessa todo o planeta. A simples venda de uma arma em Marrocos tem implicações dramáticas, em lugares desmedidamente distantes. Efeitos nefastos, filmados com a genialidade que González Iñárritu já tinha demonstrado em 21 gramas. Este realizador mexicano, volta com este filme ao modelo de histórias entrelaçadas, já usado em “Amores Perros”, antes da americanização.

O mundo ainda não segue um trilho que Aldous Huxley vaticinou, na década de 30. Os seus habitantes ainda não são gerados em laboratório e condicionados à nascença. Mas são influência intensa e permanente no comportamento dos outros. Como referiu o próprio Iñárritu – “Existe un momento preciso en el que cambia la vida de alguien”