sábado, 24 de maio de 2008

Eu, o Diabo (Pedaços de Literatura)


È claro que desconfio que vos preparais para acreditar no contrário de tudo aquilo que eu disser, visto que sou eu quem fala. Mas penso que sereis suficiente subtis para adivinhardes que o contrário do que eu digo nem sempre é verdade, e para pressentirdes todo o interesse do que eu possa dizer de sensato, mesmo que só lhe concedeis desconfiança. Afinal o meu nome, que aparece nada menos que cinquenta vezes no Corão venerável, é um dos mais citados ali.

(…)

Jurei então submeter sempre à prova a raça de Adão.

(…)

E Deus disse que enviaria para o inferno todos os que eu conseguir corromper.

È inútil dizer que mantive a minha palavra. Nesse aspecto não vejo que haja qualquer coisa a acrescentar. Há quem diga que nessa ocasião foi firmado um pacto entre Deus e eu. Por essa teoria eu seria de Deus um ministro de que ele se serve para por os homens à prova.

(…)

O que eu faço é muito importante, porque se todos fossem para o Paraíso, ninguém teria medo e o bem não bastaria para gerir os assuntos do mundo e dos Estados. Efectivamente, o mal é tão necessário como o bem, e o vício tão necessário como a virtude.

Orhan Pamuk – “O Meu Nome é Vermelho”

Sem comentários: